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MUNDO

Saiba como é a organização política do Irã, em confronto com Israel

País possui figuras com papel político e religioso, como o líder supremo, além da temida Guarda Revolucionária; chefes militares importantes foram mortos por Israel

O bombardeio que o governo de Israel chamou de "ataque preventivo", lançado contra o Irã, deixou ao menos 80 mortos na quinta-feira. Entre as vítimas, estão alguns dos principais chefes militares iranianos, como o general Mohammad Bagheri, então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã, e o general Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária Islâmica. Os militares são comandados pelo aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.

Foi Khamenei que anunciou as mortes dos militares. Para tentar conter os danos à cadeia de comando após o enorme baque, o governo imediatamente indicou substitutos: o Estado-Maior a a ser comandado pelo general Abdolrahim Mousavi, que era comandante do Exército, enquanto a Guarda Revolucionária será chefiada por Mohammad Pakpour, que liderava as forças terrestres do mesmo braço armado.

 

Organização política
Ali Khamenei é quem manda no Irã. Ele é o chefe de Estado e ocupa o cargo vitalício de líder supremo, posto de maior autoridade política e religiosa do país. O aiatolá é o responsável por nomear os líderes das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária, definir quem ocupa os cargos mais importantes do Judiciário e comandar as ações de política interna e externa do país.

No posto desde 1989, Khamenei escolhe até os líderes da mídia estatal iraniana, além de controlar operações de inteligência e ratificar os resultados das eleições presidenciais. O líder supremo é escolhido por uma assembleia formada por especialistas na lei islâmica e eleita por voto direto a cada oito anos, e a lista de candidatos precisa ser aprovada pelo chamado Conselho de Guardiões, formado por seis juristas e seis clérigos — estes também eleitos por indicações de Khamenei.

Abaixo dele está o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, que, por conta das limitações impostas pela atuação do líder supremo, possui um foco maior na economia. Ele é eleito por voto direto, assim como os 290 parlamentares, eleitos a cada quatro anos. As leis elaboradas pelos políticos, no entanto, precisam ar justamente pelo Conselho de Guardiões.

Guarda Revolucionária
Em 1979, quando a República Islâmica foi instaurada, o Irã cortou todas as suas relações oficiais com Israel, deixando de reconhecê-lo, e a Guarda Revolucionária foi criada justamente para proteger o regime. Em 1982, quando Israel invadiu o Líbano, a Guarda ajudou a criar o Hezbollah, um movimento xiita que se implantou no sul libanês e lançou uma luta armada contra o Estado judeu.

A organização é o braço mais poderoso e temido das Forças Armadas do país. O Irã nunca divulgou os números oficiais, mas uma estimativa do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos calcula que a guarda seja hoje formada por cerca de 125 mil homens, divididos em áreas de atuação distintas. A Guarda Revolucionária tem as próprias tropas especiais para o Exército, Marinha e Aeronáutica.

Em 2019, Donald Trump declarou a Guarda Revolucionária como uma “organização terrorista estrangeira” nos Estados Unidos.

Outras baixas
De acordo com policiais ouvidos pelo New York Times, os ataques também vitimaram Esmail Qaani, chefe da Força Quds — unidade de elite da Guarda Revolucionária responsável pela articulação com movimentos revolucionários islâmicos em outros países, entre eles o próprio Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano, e os Houthis no Iemên.

Khamenei acrescentou que outros comandantes militares de alto escalão, além de cientistas ligados ao programa nuclear do país — a imprensa estatal citou seis cientistas — foram mortos em ataques que incluíram alvos residenciais. Além dos comandantes militares, também foi morto Ali Shamkhani, ex-comandante sênior da Marinha, um dos políticos mais influentes do Irã e confidente próximo de Khamenei.

— Alguns dos comandantes e cientistas foram mortos, mas seus substitutos assumirão imediatamente as funções. E o regime sionista, com esse crime, criou um destino doloroso e amargo para si mesmo, e certamente o receberá — disse.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou ter atacado "o coração do programa nuclear iraniano", considerado uma ameaça existencial ao país. Teerã, por sua vez, considerou a ofensiva um ato de guerra.

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