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YANA LUIZA

Familiares aguardam com expectativa julgamento de PM que matou esposa

Crime aconteceu em 2013

O júri popular do capitão da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) Dário Angelo Lucas da Silva, de 51 anos, está previsto para começar na manhã desta quinta-feira (12), na 1ª Vara Criminal da Comarca de Paulista, na Região Metropolitana do Recife.

No Fórum de Paulista, a família da comerciante Yana Luíza Moura de Andrade, que foi morta por ele a tiros, no apartamento da sogra, em Paulista, em 2013, clamava por justiça. Depois de 12 anos, a sessão traz ao coração dos parentes o sentimento de dar um desfecho considerado justo a essa história.
 

"É toda uma família destruída"
Para o filho da vítima, Arthur Moura, de 19 anos, que estava no local do crime, com a morte de Yana, toda a família foi destruída. Ela era, segundo ele, quem organizava as festas familiares e tinha o clima de alegria.

"Ela era uma pessoa muito boa. Quando ela se foi, nossa família se destruiu completamente. A gente vai tentando se reerguer, ao ar do tempo, mas é muito difícil. O que nós sempre buscamos foi justiça. Esse dia chegou e a gente espera que tudo dê certo. Eu não vou ter a minha mãe de volta. Minha família não vai ter mais aquela mulher. Mas a justiça fazendo a parte dela, a gente vai, pelo menos, fechar o caixão. Esse caso ainda está em aberto. A dor não vai ar, mas a gente vai se aliviar mais, disse.

Familiares aguardam julgamento do caso do assassinato de YanaFamiliares aguardam julgamento do caso do assassinato de Yana. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco

O primo de Yana, José Heitor, estudante, de 20 anos, indignado, relembrou, durante a reportagem, do sofrimento da família nos últimos 12 anos e frisou que o réu 'vive uma vida normal'.

"Eu espero que Yana não seja mais um número, mais um descaso. Que seja um ponto final para todas as famílias que tiveram uma prima ou uma irmã vítimas de crimes como este. Em 2015, dois anos depois de ter matado a minha prima, esse réu foi aposentado e patenteado a major. Foi, basicamente, presenteado e ainda foi aposentado da PMPE por deficiência física e ganhava o salário todo mês. Fez a prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], ou e é advogado até hoje. Tem mais de 130 processos nas costas. Ainda em 2015, foi reconhecido como cidadão Exuense, o que é um verdadeiro absurdo", ressaltou ele.

Dinâmica do julgamento
O júri será presidido pelo juiz de direito Thiago Fernandes Cintra. O Ministério Público é representado pelos promotores de justiça Liana Menezes Santos e Ademilton das Virgens Carvalho Leitão. Dário será julgado por homicídio qualificado por motivo fútil e pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

"É um dia muito esperado. A gente fica apreensiva, na espera por esse dia. Que a justiça seja feita. É muito ruim esperar, depois de um crime, ser julgado depois de 12 anos. A justiça tem um papel importante. Quem matou foi ele. Ele foi réu confesso. Tem que pagar. Dário fez [o crime], confessou e se entregou. Ele ou apenas 4 meses preso, logo após foi promovido a major, tirou a OAB e exerce a profissão de advogado", argumentou a tia da vítima e conselheira tutelar, Regina Moura.

Por que crime não será julgado como feminicídio?
De acordo com a promotora de justiça Liana Menezes Santos, na época do crime, ainda não existia a qualificadora 'feminicídio', que ou a vigorar em 2015. 

A tipificação é dada ao crime de ódio cometido contra a mulher, em situação de violência doméstica ou familiar, somente pela condição de ela ser mulher. 

"A prova do processo é a mesma. O crime é o mesmo, só não tem a tipificação com esse nome. As provas do processo são totalmente de autoria e materialidade ligadas às qualificadoras que estão sendo imputadas ao acusado. O que a gente tem é uma execução muito bem fria e calculada do acusado, em relação a ela", explicou ela, expondo, inclusive, que ele a matou com a arma da corporação.

Segundo Liana, o réu pode pegar pena de 12 a 30 anos de prisão, a depender do andamento dos trabalhos e da avaliação do juiz.

Relembre o caso
O assassinato aconteceu na madrugada do dia 2 de janeiro de 2013, uma quarta-feira, quando Dário efetuou dois tiros de pistola .40 contra a esposa. Os disparos atingiram o olho e supercílio esquerdos dela.

O casal estava no apartamento da mãe de Dário, em Paulista. Eles viviam um relacionamento conturbado, e o ciúme excessivo fazia parte da rotina dos dois.

Traição
Em entrevista recente, a mãe de Yana, Rozeane Moura, contou à Folha de Pernambuco que a filha teria sido informada que Dário mantinha um relacionamento extraconjugal com uma mulher da cidade de Exu, no Sertão, com quem ele teria um filho de 7 meses, à época. Foi aí que os problemas no casamento teriam começado.

"Minha filha era muito apaixonada por ele. Os dois não tinham mais uma vida sexual ativa e ele dizia que, simplesmente, ela não era mais uma 'novidade' para ele", frisou.

Dário e Yana moravam juntos há 4 anos, em Ouricuri, também no Sertão do estado. Ela era recém-separada. O casal se conheceu ainda quando Yana estudava Direito, numa faculdade do município. Eles foram a Paulista, juntos com os dois filhos dela, para comemorar o Réveillon.

Um mês antes do crime, ela tinha ido a uma unidade de saúde com um corte no supercílio. Dias antes da tragédia, Dário teria agredido Yana, de acordo com a mãe dela.

"Ele espancou, deu uma coronhada na cabeça dela, bateu com a cabeça dela na cama e deu chute nela. Isso tudo eu soube depois. Uma pessoa [que morava perto do casal] que ligou para mim, não se identificando, e disse que eu tivesse cuidado com minha filha, porque ele ia matá-la. [Essa pessoa] tinha ouvido o grito dela pedindo socorro em casa", contou. 

Depois que escutou o relato, Rozeane diz ter ligado para a filha, que negou qualquer episódio de agressão. Yana era proprietária de um restaurante e pizzaria istrado pela mãe, em Ouricuri, e ou dois dias sem visitar o estabelecimento.

Rozeane foi visitá-la e desconfiou de que a filha estaria sendo espancada, ainda quando chegou à sala da casa dela. 

Às vésperas do Réveillon da angústia
Como dito acima, o crime aconteceu no Réveillon de 2013. Poucos dias antes, entre 28 e 29 de dezembro de 2012, Yana ligou para a mãe, dizendo que aria aquela virada de ano com ela, em Ouricuri, como era a tradição da família da vítima.

Ela e o marido costumavam ir à casa da sogra. Os dois filhos dela tinham ido para Araripina, onde mora o pai deles. No dia 30 de dezembro, pela manhã, Yana ligou para a mãe, dizendo que não ia mais ar o Réveillon com ela, e que ia viajar com Dário, o marido. Rozeane pediu a ela para não ir, o que não foi atendido.

"Antes de ir, pegou os filhos e foi no restaurante, só que ela não saiu do carro. Eu fui conversar com ela e notei um abatimento, uma tristeza. 'Yana, por que que tu vai?', eu perguntei. Ele [Dário] tinha saído para conversar com o advogado dele no restaurante. Quando ele viu que eu estava lá conversando com ela, ele correu e entrou dentro do carro, impedindo que a gente conversasse", detalhou a mãe.

aDurante a entrevista, emocionada, Rozeane relembra que recebeu uma ligação da filha, às 21h do dia 1º de janeiro daquele ano, dizendo que estava separada de Dário. Essa separação seria definitiva, segundo ela. A mãe aconselhou a filha a ir embora para Ouricuri, temendo que ela fosse assassinada, mas ela negou, pedindo para que a Rozeane não se preocue.

"Quando foi na madrugada, já umas 3h, eu recebi a ligação da mãe dele, contando que ele tinha matado ela. Ai, meu Deus, como é difícil falar sobre isso...", desabafou.

Após cometer o crime, Dário se apresentou ao Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (Creed), confessando o crime. Foi preso. Mas, em 9 de abril de 2013, três meses após o crime, foi solto e, desde então, permaneceu em liberdade.

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