Contra-ataque: forças militares do Irã são capazes de responder bombardeios de Israel à altura?
País possui o mais diversificado arsenal de mísseis do Oriente Médio; iranianos lançaram os primeiros ataques ao território israelense nesta sexta
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse em um discurso à nação, nesta sexta-feira, que "Israel não sairá ileso" após os ataques contra seu país. Após a declaração, os iranianos lançaram a primeira rodada de ataques ao território israelense, disparando mais de cem mísseis balísticos em resposta aos bombardeios promovidos por Israel.
O Irã possui o mais diversificado arsenal de mísseis do Oriente Médio, mas especialistas apontam que o poderio bélico pode estar defasado, o que gera incertezas sobre a força do contra-ataque.
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De acordo com a emissora israelense Canal 13, um incêndio foi registrado perto da sede do Ministério da Defesa de Israel, em Tel Aviv. O jornal israelense Haaretz afirmou que o Irã lançou mais de 100 drones em direção ao país, e um navio de mísseis da Marinha israelense interceptou três drones lançados pelos iranianos no Mar Vermelho.
Resposta à altura?
Segundo o Global Firepower, um ranking especializado em potências militares que analisa o arsenal de 145 países, o Irã conta com 610 mil militares ativos, 220 mil paramilitares e 350 mil reservistas.
O contingente é quatro vezes maior que o de Israel, que tem 169,5 mil militares ativos nas Forças Armadas, além de 35 mil paramilitares e 465 mil reservistas. Apesar disso, Israel tem uma das Forças Armadas mais poderosas do Oriente Médio, com sistemas de monitoramento, defesa e ataque extremamente avançados.
Estimativas de fontes de inteligência dos Estados Unidos indicam que o regime dos aiatolás conta com mais de 3 mil mísseis balísticos, de tipos e com alcances variados, incluindo alguns capazes de alcançar Israel.
Uma dessas armas é o míssil Kheibar Shekan, com autonomia para atingir alvos a 1.450 km, distância similar à do país islâmico até Tel Aviv. A preocupação com esse míssil aumentou em janeiro, quando a Guarda Revolucionária o utilizou para atingir alvos inimigos na Síria.
As Forças Armadas do Irã possuem ainda mísseis como o Sejjil, comprovadamente operacional, com capacidade de atingir um alvo a 2.000 km, de acordo com o Missile Defense Project, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), com base em Washington.
A distância é suficiente para ameaçar Israel, Arábia Saudita e mesmo o sul da Europa. Há ainda o Soumar, míssil de cruzeiro com capacidade nuclear, desenvolvido a partir de um míssil russo, que está “presumivelmente” operacional e pode alcançar até 3.000 km, segundo o Missile Defense Project.
O sistema de detecção e destruição de mísseis do Irã também é inferior ao de Israel. As Forças Armadas israelenses contam com uma variedade de sistemas para bloquear ataques aéreos, entre eles o famoso Domo de Ferro, dedicado a foguetes de curto alcance (até 70 km de distância), e o Arrow, capaz de interceptar mísseis até 2.400 km de distância. Já os sistemas iranianos alcançam uma distância máxima de 320 km com o Bavar-373, lançado em 2019.
Superioridade defasada
O desenvolvimento de um arsenal de mísseis modernos se tornou uma prioridade para o Irã, como forma de projetar poder para além de suas fronteiras. De acordo com o Centro de Políticas dos Emirados Árabes Unidos, Teerã reservou 41% de seu orçamento militar do ano ado para o programa de mísseis.
No entanto, enquanto projéteis cada vez mais tecnológicos, precisos e aerodinâmicos são desenvolvidos no Irã, organizações como o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), de Londres, avaliam que equipamentos das Forças Armadas, como tanques e aeronaves de combate, estão defasados.
Do mesmo modo, o orçamento de Defesa dos países é bastante discrepante: o Irã possui uma despesa prevista de US$ 9,9 bilhões (R$ 51,3 bilhões) para este ano, enquanto a cifra israelense é de US$ 24,4 bilhões (R$ 126,5 bilhões), segundo o Global Firepower com dados de abril.
Armamento nuclear
Por outro lado, há a questão dos armamentos nucleares. Ao contrário de Israel, oficialmente, o Irã não possui armas desse tipo. No entanto, uma fonte de inteligência israelense ouvida em anonimato pelo Globo afirmou que o país já tem a plataforma para lançamento de bombas nucleares (mísseis) e que a quantidade de urânio enriquecido necessária para fabricar armas está perto de ser alcançada. Israel trabalha com uma estimativa de que a arma possa ser alcançada em dois anos.
Em um relatório confidencial recente, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revelou ter "preocupações" com o programa iraniano.
Os dados do documento mostraram que Teerã aumentou a quantidade de urânio enriquecido nos últimos meses, superando os limites impostos pelo Plano de Ação Conjunta Global (JOA, em inglês), um acordo firmado em 2015 — um texto considerado quase morto desde que foi abandonado pelos EUA, durante a istração Trump, e para o qual os americanos nunca retornaram.
Defesa aérea
Em outubro do ano ado, O Irã disparou em torno de 200 projéteis contra o território israelense numa breve exibição de sua capacidade militar, bem como do alcance e da sofisticação de parte de seu arsenal, que evoluiu em qualidade e quantidade nos últimos 15 anos.
À época, Netanyahu afirmou que a ação foi "um grande erro" do Irã, que iria "pagar por isso".
As Forças Armadas israelenses contam com uma variedade de sistemas para bloquear ataques aéreos, entre eles o famoso Domo de Ferro, dedicado a foguetes de curto alcance (até 70 km de distância), e o Arrow, capaz de interceptar mísseis até 2.400 km de distância.
Já os dispositivos iranianos de alta altitude, como o Bavar-373, conseguem detectar alvos a no máximo 320 km de distância, segundo dados atualizados do Instituto de Washington para Política do Oriente Próximo, um centro de estudos pró-Israel com sede nos EUA.