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MUNDO

Autoridades brasileiras se escondem em bunker de hotel em meio a ataques aéreos de Israel e Irã

Comitiva com 18 autoridades municipais, incluindo quatro prefeitos, está em Israel para viagem de estudos sobre tecnologias de segurança

Autoridades de 16 municípios brasileiros amanheceram com o som de alertas de sirene e mensagens de texto em hebraico em seus celulares, alertando para encontrarem um local seguro em no máximo 10 minutos. Enquanto o Exército de Israel lançava seu amplo ataque surpresa contra o programa nuclear iraniano, a comitiva brasileira, que viajou ao Estado judeu para uma visita de estudos sobre tecnologias para segurança pública municipal, se escondia no bunker de um hotel em Kfar Saba, ao norte de Tel Aviv.

— Fomos surpreendidos na madrugada de hoje com o soar de sirenes no entorno do hotel. Segundos depois os celulares começaram a tocar com mensagens em hebraico, alertando para uma emergência de guerra, e que deveríamos ir a um local seguro dentro de um máximo de dez minutos — contou o brasileiro Davi Carreiro, chefe executivo da Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia em Apoio à Segurança Pública (Civitas), da Prefeitura do Rio, em depoimento ao Globo.

A delegação brasileira é formada por 18 autoridades de municípios distribuídos por 11 estados, incluindo o vereador do Rio Flavio Valle e os prefeitos de Belo Horizonte, Álvaro Damião, de João Pessoa, Cícero Lucena, de Macaé, Welberth Rezende, e de Nova Friburgo, Johnny Maycon. Vice-prefeitos e secretários de municípios de todas as regiões do país também participam da visita.

De acordo com Carreiro, o hotel em que estão hospedados possui um bunker, e a equipe já havia informado sobre o protocolo para situações de emergência. No momento que o primeiro alerta disparou, funcionários do hotel ajudaram a organizar o deslocamento até a área segura.

— Acordei muito assustado, foi o tempo de botar um calçado, pegar uma garrafa d'água, celular e carregador e descer para o bunker — disse o brasileiro. — Esperamos lá por cerca de 20 minutos a espera de novas informações. Foi quando tivemos notícias que de fato se tratava de um ataque de Israel ao Irã. Fomos liberados para subir aos quartos depois de meia-hora, mas assim que subimos, veio um novo alerta, dessa vez com uma possível ameaça de drones iranianos. Voltamos ao bunker e esperamos mais 10 minutos.

Em Jerusalém, as ruas normalmente movimentadas nas manhãs de sexta-feira por ocasião dos preparativos para o shabat, estavam silenciosas ao amanhecer. A habitual aglomeração de fiéis muçulmanos a caminho das orações do meio-dia na Mesquita de al-Aqsa também não aconteceu. Muitos moradores da cidade sagrada para as três principais religiões monoteístas do mundo pareciam atordoados, após terem sido acordados bem antes do amanhecer com os alertas.

Em todo o país, aglomerações foram proibidas e escolas permaneceram fechadas. Israel sentiu-se estranhamente isolado do mundo depois que seu espaço aéreo foi fechado ao tráfego aéreo civil e todos os voos que chegavam ou partiam do Aeroporto Internacional Ben-Gurion foram cancelados.

Na capital, muitas pessoas ficaram confusas sobre como proceder, pois as autoridades haviam dito na televisão que deveriam sair apenas para comprar itens essenciais. Algumas pessoas já haviam saído antes do amanhecer para comprar alimentos em supermercados 24 horas e formaram filas em postos de gasolina.

Depois das 9h (3h em Brasília), outras pessoas correram por corredores de um supermercado em Jerusalém, na esperança de voltar para casa na hora que achavam que teriam antes da chegada dos drones do Irã. Os compradores estavam estocando água engarrafada e houve uma corrida por ovos.

— Estou um pouco apreensivo, por um lado. Por outro lado, há uma forte sensação de alívio — disse David Hazony, um escritor israelense-americano de 56 anos que acabara de fazer compras na capital, acrescentando que tem filhos que servem na reserva militar. — É algo que sabíamos que precisava acontecer há décadas, mas sempre duvidei que nossa liderança tivesse a coragem de fazê-lo.

Jawwad Abu Humous, de 45 anos, gerente do supermercado e morador palestino de Jerusalém Oriental, disse que só soube do ataque israelense quando chegou ao trabalho pela manhã.

—Ouvimos 'Irã, Irã' há anos — disse ele. — No fim das contas, queremos paz e tranquilidade. A guerra é difícil para todos.

Os militares disseram que começaram a interceptar os drones fora do território israelense. Às 11h (5h em Brasília) , as instruções foram flexibilizadas. Os cidadãos não eram mais obrigados a permanecer perto de abrigos antiaéreos, mas foram informados de que poderiam sair, tomar um ar fresco — e estocar alimentos.

Em Kfar Saba, Carreiro afirmou que a delegação composta de autoridades municipais esperam instruções da Embaixada do Brasil em Israel e do governo brasileiro para saber como proceder e retornar ao país.

— Obviamente, em uma situação como essa, é inevitável que venha uma carga emocional e que a gente pense logo na família, na nossa terra natal, e saber que isso também só vai poder ser feito mediante muita segurança — disse ao GLOBO. — Nosso grupo aguarda hoje por orientação da embaixada, do governo brasileiro, sobre possibilidades seguras para retornar aos nossos lares. (Com NYT)

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