Após interceptação perto da costa de Gaza, barco com ativistas chega ao porto de Ashdod, em Israel
Embarcação Madleen tentava quebrar bloqueio naval ao enclave, imposto desde 2007, mas foi capturada pelos israelenses ainda em águas internacionais
O barco Madleen, capturado na noite de domingo quando tentava quebrar o bloqueio naval de Israel à Faixa de Gaza, chegou ao porto israelense de Ashdod nesta segunda-feira, levando a bordo 12 ativistas — incluindo a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila —, que, segundo as autoridades locais, devem ser deportados a seus países de origem.
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Na véspera, a organização da flotilha, que planejava levar ajuda humanitária ao enclave palestino, disse que os ativistas foram"sequestrados por forças israelenses".
A chegada do Madleen a Israel foi confirmada pelos advogados dos ativistas, que devem ser levados a uma unidade de detenção e serem ouvidos por um juiz, antes da provável extradição.
Pessoas que trabalharam em processos semelhantes afirmam que, normalmente, as autoridades israelenses não abrem processos criminais contra os capturados, e preferem uma deportação rápida, em até 48 horas, além do veto à entrada em Israel e nos Territórios Ocupados por ao menos 10 anos.
Na noite de domingo, o Madleen, que integra a iniciativa Freedom Flotilla Coalition (FFC), navegava em águas internacionais, a cerca de 200 km da costa de Gaza, quando foi interceptado por forças de ataque israelenses.
Nas imagens feitas pelos 12 ativistas a bordo é possível ouvir alarmes no convés, e os tripulantes reclamando de uma "substância branca" lançada pelos militares — o som de drones também é ouvido nas gravações. Pouco depois, eles ouviram uma mensagem no rádio afirmando que "a zona marítima ao largo de Gaza estava fechada", e não tardou até que os militares entrassem na embarcação.
“Havia 12 trabalhadores humanitários e ativistas pacíficos a bordo, envolvidos em uma missão civil completamente não violenta”, afirmaram os ativistas em comunicado.
“A apreensão do navio, realizada fora das águas territoriais de Israel, constitui uma violação flagrante do direito internacional. A tripulação civil desarmada foi sequestrada”, continuam, pedindo que a comunidade internacional condene a detenção.
Desde 2007, ano em que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza, Israel impõe um bloqueio total da costa do enclave, e desde 2010 todas as flotilhas de ativistas pró-Palestina foram interceptadas no mar — em uma das abordagens, nove pessoas foram mortas a bordo do Mavi Marmara, atacado em águas internacionais, em maio de 2010.
A interceptação do Madleen aumentou o tom das críticas internacionais ao governo israelense. O Itamaraty exigiu a libertação dos ativistas, lembrou do princípio da livre navegação em águas internacionais e criticou o bloqueio à entrada de ajuda em Gaza.
A França, que tinha seis de seus cidadãos a bordo, pediu seu retorno imediato, e o presidente, Emmanuel Macron, afirmou que o bloqueio ao enclave era "um escândalo" e "uma vergonha".
Um porta-voz da Chancelaria britânica exigiu que todos sejam tratados “com segurança e moderação, em conformidade com o direito internacional humanitário”, e chamou a situação humanitária em Gaza de “terrível e intolerável.”
Já a Suécia, país da ativista Greta Thunberg, ao mesmo tempo, em que prometeu prestar ajuda consular, disse que desaconselha viagens a Gaza, e que aqueles que escolhem ir para o enclave têm "algum grau de responsabilidade".
O governo israelense afirmou que a flotilha “tentou encenar uma provocação midiática com o único propósito de ganhar publicidade”:
“Existem maneiras de entregar ajuda à Faixa de Gaza — elas não envolvem selfies para o Instagram”, acrescentou o Ministério das Relações Exteriores. Em outro comunicado divulgado nesta segunda-feira, o órgão classificou as tentativas não autorizadas de romper o bloqueio como “perigosas, ilegais e prejudiciais aos esforços humanitários em andamento”.